22 de julho de 2020

Educação foi o tema do segundo webinar do Instituto Alcoa

Evento integra série cujo objetivo é conectar e incentivar ações comunitárias para enfrentamentos dos desafios causados pela pandemia de Covid-19.

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No dia 08 de julho, o Instituto Alcoa realizou o webinar "Tempo de colaboração: qual é o papel de cada um de nós na educação diante do cenário atual?”.

O evento foi o segundo de uma série de atividades online realizada pelo IA em tempos de isolamento social a fim de conectar e inspirar colaboradores da Alcoa, voluntários, conselheiros e comunidades a partir de diálogos alinhados às frentes de atuação do Instituto. O primeiro webinar teve como tema “Engajamento social para enfrentamento à pandemia”. A pauta do próximo encontro será Geração de Trabalho e Renda.

O evento reuniu cerca de 100 participantes e contou com a presença  de Cinthia Rodrigues, jornalista especializada em educação e cofundadora e gestora do Quero na Escola - projeto que usa a tecnologia para mapear as demandas dos estudantes para além do currículo obrigatório e conectá-las a voluntários; e Romualdo Portela de Oliveira, mestre e doutor em Educação e Livre Docência, diretor de Pesquisa e Avaliação do CENPEC Educação e presidente da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpa).

Desafios de acesso e capacitação

Um dos principais desafios enfrentados por estudantes, famílias e redes de ensino frente à estratégia de ensino remoto implementada durante o período de distanciamento social se refere ao acesso dos alunos à internet e às tecnologias necessárias para o acompanhamento das aulas.

“Aproximadamente 50% dos estudantes não têm conseguido acompanhar as aulas por falta de infraestrutura. Em paralelo, uma pesquisa do Instituto Península revela a dificuldade dos professores de trabalhar com atividades remotas. 88% afirmam nunca ter dado aula à distância antes, 83% se sentem pouco preparados, 75% se queixam da falta de suporte emocional e 55% afirmam não ter recebido treinamento. Esses dados evidenciam uma situação complexa do ponto de vista do acesso, bem como da qualidade da oferta e do atendimento”, observa Romualdo.

Planejamento para o retorno será fundamental

De acordo com o especialista, será crucial o planejamento por parte das redes de ensino para preparar o retorno dos estudantes às aulas presenciais.

Ele lembra que a diretriz do Ministério da Educação flexibiliza a obrigatoriedade dos 200 dias letivos com manutenção da carga horária, o que permite a validação de parte das 800 horas obrigatórias com atividades remotas.

“Essa determinação permite arranjos diversos por parte das redes de ensino, no entanto, o foco deve estar em garantir o direito à aprendizagem e a solução para esse desafio certamente ultrapassará o calendário deste ano e até mesmo dos próximos.”

O especialista afirma ainda que, no retorno às aulas presenciais, a escola será chamada a mudar. “Pesquisas anteriores ao início da pandemia já mostravam que os jovens são muito mais tecnológicos que as escolas. Os meios tecnológicos de ensino e aprendizagem já são uma realidade e precisam ser introduzidos de forma efetiva na rotina escolar e combinada com as atividades presenciais, o que nos leva ao debate da inclusão digital, tema que será fortemente associado a educação no próximo período”, ressalta.

Participação e políticas públicas

Outro ponto destacado por Romualdo com preocupação diz respeito às projeções de evasão escolar que já têm sido bastante sinalizadas por especialistas da área.

“Experiências similares de períodos de fechamento das escolas provocados por situações de emergência mostram uma tendência ao aumento da evasão escolar em razão da diluição dos vínculos durante o afastamento. Será necessário desenvolver políticas para reduzir esse risco, além das desigualdades, dois problemas históricos que tendem a ser acentuados no pós-pandemia”, alerta.

Para o especialista, será necessário pensar no longo prazo para a redução dos prejuízos. “A participação de cada um dos membros da comunidade escolar deve se dar em diversos níveis. Escolas mais abertas à participação e à interferência da comunidade têm tido melhores resultados.”

Na mesma direção, Cintia salienta a importância da atuação cidadã em defesa da educação. “Estamos vivendo um momento  em que é essencial nos colocarmos como defensores da educação pública, que forma 80% da nossa população.”

Quero na Escola em tempos de isolamento

Frente à impossibilidade de seguir com a realização das atividades na escola, Cinthia conta que o Quero na Escola, como tantas outras organizações e iniciativas, adotou o modo remoto. Os encontros virtuais entre voluntários e alunos permitiram a troca de conhecimentos e experiências entre estudantes de regiões diversas do país, o que, para a jornalista, foi um aspecto interessante da experiência.

Além disso, o projeto alçou novas iniciativas para responder a desafios do atual contexto, como, por exemplo, o fechamento das bibliotecas. O projeto Quero Livro conecta estudantes a doadores, possibilitando que os jovens tenham acesso à literatura, seja para estudo ou para entretenimento, durante o período de isolamento.

Outra ação prevista para ser lançada em breve promoverá o match entre professores e psicólogos para apoio às demandas socioemocionais desses profissionais.

Cinthia salienta, no entanto, a importância do espaço físico da escola e da interação presencial entre alunos, professores e outros atores da comunidade escolar.

“A educação precisa da relação humana para acontecer. O aprendizado é troca. Acredito muito no ‘pisar no chão da escola’. Da mesma forma que o estudante aprende com o voluntário, os voluntários também passam a ver de outra forma a partir da interação com o estudante e o contato com a escola pública”, afirma.

Para a jornalista, demandas dos estudantes relacionadas a ansiedade, depressão e outras dificuldades emocionais já eram frequentes antes da pandemia. “Esses desafios aumentaram ainda mais, o que só comprova o papel fundamental da escola.”

Monica Espadaro, gerente de projetos do Instituto Alcoa, reforça o papel essencial da educação na busca por uma sociedade mais justa e sustentável. “Investindo no tema da educação há mais de 30 anos, o Instituto Alcoa avalia como fundamental espaços como este, que possibilitem a troca de conhecimentos, experiências e inspirações para enfrentarmos, todos juntos, este momento, talvez, o mais desafiador dos últimos tempos.”